terça-feira, 9 de outubro de 2007
Para seguir em frente (*)
Um estudo feito pela Hopkins University, nos Estados Unidos, mostrou que apenas 10% das pessoas conseguem alterar seu estilo de vida. Isso, inclusive, entre gente que ficou doente por problemas causados por maus hábitos, como cigarro, bebida e estresse demais.
A pesquisa feita pela universidade americana aponta uma realidade que todos nós, em algum momento, já sentimos: mudar não é fácil, seja um velho hábito (deixar de ser sedentário), seja uma situação de vida (o jeito de trabalhar). Estamos sempre nos prometendo fazer diferente – ser mais paciente, tolerante, emagrecer, parar de fumar –, mas dificilmente a transformação é levada adiante. Por que somos tão resistentes às transformações?
Isso acontece porque alterar um padrão preestabelecido traz, quase sempre, uma dose de sofrimento: o prazer de ficar no conhecido, e portanto controlável, se vai, e vem a sensação de desconforto. “Resistimos a sair de nossa zona de conforto mesmo que a situação esteja péssima. Nos acostumamos até com algo que não está fazendo bem. Mas permanecemos ali porque já sabemos como lidar com aquilo”, explica a psicóloga Rebeca Fischer, da Sociedade Brasileira de Neurolingüística.
E tem mais: se desvencilhar de uma antiga situação para encarar outra inclui também se atirar ao desconhecido, segundo a psicoterapeuta e pedagoga Rosemary Roggero. E perder as rédeas da situação, convenhamos, é outra coisa que costuma assustar. É como a mãe que, depois de duas décadas cuidando do filho, o vê seguir a rota sozinho. Fisicamente, isso pode causar irritação, dor de estômago, tristeza e sensação de incômodo. Há quem defina como a síndrome do ninho vazio, mas, independentemente do nome, o que está em ques tão é uma nova organização fa miliar – nem pior nem melhor, apenas diferente. Diante de situações assim, temos caminhos a seguir: se nutrir de coragem e seguir em frente ou se deixar paralisar pelo medo e não experimentar a novidade. “Para andar, é preciso colocar um pé para a frente e desequilibrar o corpo para depois se apoiar no outro. Se você não tivesse pernas para isso, seria como um joão-bobo – mesmo que alguém o empurrasse, voltaria para a mesma posição. As pessoas precisam aprender a se desequilibrar para poder ir para a frente”, conclui o físico e educador José Luis Menezes, da Universidade de São Paulo.
Enfim, a falta de controle e uma pequena dose de desequilíbrio fazem parte dessa nossa caminhada para reestruturar pequenas ou grandes coisas dentro de nós ou a nosso redor.
(*) Artigo da Revista "Bons Fluidos", outubro/2007